terça-feira, 11 de agosto de 2009

Chapter 32


Talvez um dia, quando decidires admitir que me queres, eu te queira também. Com tudo o que tens direito. Se esse dia chegar, eu vou estar pronto para ti em cinco minutos. Faça sol, faça chuva, estarei disponível para ti; de corpo e mente, mais de corpo, porque a mente foi-se, morreu. Bastou tu um dia dizeres que me tinhas quando quisesses, e tinhas, mas escusavas dizer-mo assim, tão descaradamente, tão literalmente nua, sentada no teu sofá verde. Sabias que eu não ia dizer que não e por muito que por momentos o dissesse, tu saberias roubar-me um sim, por mais hipócrita que fosse, por mais breve e frio. Sempre soubeste quando e como me haverias de ter. Sou, ainda hoje, o tipo mais fácil que tens ao teu alcance, sou aquele que além de sugar até à exaustão, estarei para tudo que for preciso. Talvez esteja apaixonado por ti, talvez viciado seja a palavra correcta. Desde que me deste permissão para chupar os teus lábios que não sou o mesmo, sou parte de ti. E por muito que não admitas isso, quando de manhã olhares ao espelho vais ver-me; pelas marcas de mordidas minhas, pelas marcas de cera que tanto gostavas de ver correr por entre os teus seios, — parece lava quente — dizias tu enquanto esta escorria por entre e através da tua planície que por fim, endurecia e parava no teu umbigo. Vais sempre lembrar-te de mim, para o bem ou para o mal. Que seja por mal, eu não me importo, quero é que te lembres. Não quero ser mais uma foda na tua vida, não. Quero ser uma foda, mais fodida que todas as outras fodas. Sabes o que é isso? Uma grande foda, penso eu. E quero pensar que, por alguns momentos eu também te fodi.

Mas sabes, as fodas são como quase tudo na vida, com inicio e fim, e uma vez que são fodas, que têm como objectivo foder, acabarão por se foder a si mesmas e tudo que à sua volta se sustenta; nós os dois, por tanto apenas e só fodermos, acabamos por nos foder em grande, ao limite do que a própria foda poderá um dia foder. Sim, soubemos elevar bem os nossos sentimentos; também fodidos, também ocos, e consequentemente, frágeis. E de tão frágeis serem, não aguentaram uma foda bem dada, partiram-se e caíram algures onde o teu, o meu, o nosso suor caiu um dia. Sabes onde? Eu não sei, e tu provavelmente também não. E por não sabermos, é que nunca vamos um dia juntar o nosso tão frágil, pequeno, e fodido sentimento.


Coimbra, 2005

Sem comentários: