quarta-feira, 22 de abril de 2009

chapter 26


De lado nenhum






E quanto mais fujo de ti,

mais te encontro,

nas minhas calças, na minha carteira, no meu rádio,

que toca as tuas palavras,

aquelas que nunca me leste.


Porque com palavras te descrevo,

porque com palavras te falo,

porque com apenas palavras te construo,

as mesmas com te engano.


E quanto mais fujo de ti, mais me fazes falta,

mais receio chega, mais esperança vai,

vai para onde vieste,

de onde eu vim – de lado nenhum.




Para ti, Catarina (Dezembro – 2008)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

chapter 25


A”



A letra “A” nunca foi a primeira coisa do nosso amor.



Foi A tua ausência,

foi A tua confiança – até A tua desconfiança,

foi A tua originalidade

Foi tudo A coisa mais estúpida e banal


E dentro dessas coisas tão triviais, vi num dicionário qualquer que a ausência – a tua – é algo que jamais me vou habituar, que quase por masoquismo gosto de sentir a tua falta e tenho medo de um dia não sentir. A confiança que tu tens, em que eu sou o fiel depositário, e que ao longo destes seis meses permanece intacta, quase indestrutível, é uma das mais valias, talvez a base disto tudo. Este tudo que começou de uma coisa tão estúpida e banal, como uma trepadeira qualquer que cresce e de repente a vemos chegar perto de um telhado, é este o tudo, que começou pequeno e agora é grande, e tenho toda a certeza que será imenso, infinito.


Da mesma forma que a letra “a” é a primeira da palavra amor, é a primeira em quase tudo que construímos, porque este apenas e só nosso amor foi construído. Não o compramos, nem o inventámos. Montámos delicadamente cada peça deste puzzle, deste nosso amor emoldurado.




Dezembro – 2006 

domingo, 19 de abril de 2009

Chapter 24

E-mail #2



Ultimamente, tudo isto tem soado estranho, algo de novo, algo tão bom, e algo que sou tão inexperiente. Falo, como é óbvio, da nossa mais recente confissão, da nossa última novidade, que de resto, nunca foi para novidade para mim. E para ir directamente ao ónus da questão, é do “amo-te” que falo. De o dizer sem qualquer preconceito, de o dizer livremente, e com toda certeza. Digo e ouço-o de volta e tudo é até então uma espécie de sonho, daqueles que acordo e maior parte das vezes estás ao meu lado. Amo-te como nunca ninguém amei antes, e sei-o porque na verdade, muito ou pouco, nunca amei antes.


Envio-te este e-mail amor, porque notei que conservaste aquele bilhete de comboio do meu regresso e do meu/nosso amor que – finalmente – agora se confirmou. Este desconhecido, este tão estranho e novo amor é como aquele que vemos nas novelas, embora sentido. Fazes-me tão bem, minha franjinhas, dás-me a conhecer coisas tão belas, coisas que pensava saber mas que na verdade, apenas imaginava. Vejo-te em toda a parte e imagino-te comigo em toda a parte, quero que me mostres outros mundos, outros sistemas solares, outras galáxias até, e se preferires, criaremos a nossa. Tudo o que eu quero saber é – além do que são e para que servem os bifidus activos – onde vais estar amanha? Quero saber se podes ir deitar-me, quero que me leias “o tim tim foi à lua”, e uma vez que o tim tim foi, tenho a certeza que lá me levarás – sem paragens, devo dizer.


Obrigado pela tua existência e por seres tão TU. A minha namorada, a minha amiga, a mais sexy dona de casa, a coisa mais viciante a seguir à playstation.


E só para que fique por escrito algures na tua conta e-mail, eu amo-te.





Beijo do teu babuíno queridinho.





PS: Mais cedo ou mais tarde, vou ter que falar da tua existência à minha mãe, ela pensou que eu não andasse bem – ao ver o meu saco com a roupa dobrada.



Setembro – 2006

sábado, 18 de abril de 2009

Chapter 23

E-mail #1



Quanto tempo é preciso para duas pessoas chegarem à conclusão que ambas estão a pensar no mesmo?Segundos, três para ser exacto, até que vi que não vai ser nada fácil estas duas semanas. Três pequenos segundos da tua ausência em que reflecti e que aproveito para dizer o que no fundo não sabes mas desconfias: que gosto de ti. Mas muito, algo grande, algo à largura, ao quadrado, algo que se eu tivesse que medir ao metro quadrado daria para fazer um shopping como o forúm. Como vês, eu estou – como se diz na gíria – apanhadinho por ti. E o que estávamos nós a pensar em comum?Bem, pela tua cara foi óbvio, estás apanhadinha por mim. Aposto até que choraste quando o comboio partiu, esse merdas, que me levou dos teus braços. Não te censuro meu amor, só não chorei porque o alfa ia cheio, juro.


E para que fiques ciente, em pé de igualdade comigo... Eu estou tão na tua mão. Podes-me torcer todinho, podes até fazer-me uma revista à PJ que certamente irás encontrar algures um papelzinho a dizer: “gosto de ti”. Porque gosto mesmo, e não, jamais será em vão. Sabes porquê? Porque este mês podia ter sido mais um Junho, mais um mês quente, mais um mês qualquer, mas não! Foi simplesmente, o melhor mês da minha vida.


Gosto muito de gostar de ti, minha hippie com a depilação em dia. Gosto tanto da tua franja torta, do sinal que tens no lábio, das tuas mãos de nenuco, da tua traseira de competição. Gosto da forma que me fazes sentir – apaixonado. Gosto da forma em que paro no tempo e penso no que me estou a tornar, e sinto-me melhor, com vontade de expressar esta felicidade que transborda de mim como pipocas, daquelas caseiras que metade apenas ficam milho no fundo do tacho. Sinto-me às vezes nas nuvens, e digo-te amor, elas são feitas de algodão doce. Só te digo a ti pois ninguém ia acreditar em mim, em tamanha loucura. E já chega de paneleirisses, liga-me quando leres isto, mas só de tarde, pois fui para os copos com um grupo de Suecas de pernas longas e é provável que durma até tarde.


Beijo do teu mais que tudo – espero eu.





Julho – 2006 

quarta-feira, 15 de abril de 2009

chapter 22

Recta do Botânico

(rascunho)


(...) Carla não estava bem, estava completamente bêbada, submissa, ela faria o que eu quisesse, realizaria qualquer capricho meu. Eu, naquele momento, começava a não achar graça à situação – tudo bem que sejamos ousados, mas sem perder a classe – e Carla há muito que havia perdido. Seguimos, agarrados – como se de um casal de namorados se tratasse – pela recta do botânico, entre escorregadelas das mãos de Carla pelo meu corpo, beijos ardentes, eu pensava no quanto adorava aquela recta, o quanto romantizava a ideia de um dia passear por ali agarrado a alguém – assim como a Carla – mas que amasse verdadeiramente, que pudesse levar para minha casa e fazer dela a escrava do meu amor e não de outra coisa qualquer. Por momentos esqueci-me de Carla, ela era mais uma que estava ali, que por momentos iria me fazer esquecer que eu na verdade, não tinha ninguém, que após um ano de ter chegado a Coimbra estava na casa de partida deste monopólio em que eu desde do primeiro dia comecei a jogar e – se calhar – nunca me apliquei de verdade , andei algumas casas, houve alturas que estava a avançar, mas subitamente fui parar à prisão – estive lá uns dias – e voltei ao ground zero.

São as regras, e quem não cumpre sofre as consequências, no meu caso, eu queria cumprir – queria alguém – mas não conseguia.

Tudo estava a ir embora, o efeito do álcool, a vontade que eu tinha em estar com Carla, mas essa, tinha toda a vontade. Ao chegar-mos à entrada do prédio onde vivia, Carla, por baixo das varandas, encosta-me à parede, beija-me, lambe-me os lábios e diz, « ai de ti que me tentes parar agora », abaixa-se entre os carros que estavam estacionados e vai directa à questão, às minhas calças, neste caso o fecho – que ainda estava aberto – e começa a morder-me muito suavemente por cima dos meus boxers, eu, estava imóvel, excitado e todo aquele momento deprimente havia desaparecido, são as tais maravilhas que o sexo faz, embora que por momentos. Carla era boa no que fazia, no factor surpresa, ela já segurava o meu pénis como se este lhe pertencesse, e já o beijava como se o amasse, e momentos depois já o lambia como se um gelado fosse, e fazia questão em me dizer o quanto lhe sabia bem, « tens um pau delicioso, sabias? », dizia Carla enquanto executava na perfeição aquele maravilho fellátio. Era uma cena que mais parecia tirada de um filme pornográfico, eu encostado à parece, a fumar um cigarro e Carla abaixada entre carros, não dava outra sensação que não a que na verdade se estava a passar. Estávamos ali há 5 minutos e além de fumar, gemia. Não conseguia dizer seja o que fosse, não ia conseguir – naquele momento – ser tão expressivo quanto Carla era nas suas palavras, era deliciosa a boca dela, estava insaciável, ora devagar, ora rápido, ela chupava-me com vontade enquanto fixava os seus olhos para cima, em direcção aos meus. Por instantes pára e diz-me com um ar preocupado, « quando te estiveres a vir avisa-me lindo », eu sorri e respondi, « não te preocupes linda », odeio o termo lindo, é tão “tem que ser” , tão vulgar, tão... Estúpido.

Carla fazia o seu melhor mas não valia a pena, eu não me vinha – não por falta de empenho dela – não conseguia, tinha bebido muito, e quando o faço acontece-me sempre isto, o que não é mau. Segurei-lhe na cabeça, puxei-a para cima, beijei-a e disse, « vamos para cima, aqui já deu para aquecer », Carla sorriu, e perguntou-me se eu tinha gostado, « óbvio », respondi eu. Entramos no elevador, houve uma troca de olhares tímidos, como duas crianças que tinham acabado de dar o seu primeiro beijo, « sabes Carla, não me lembro de demorar tanto tempo a chegar a casa como hoje », ela sorriu, « é verdade, parámos em todas as estações. Tens sais minerais? Estou meia mal disposta », era normal, para o que ela tinha bebido, estar só mal disposta era uma graça de Deus.

Entramos, ela sentou-se e eu fui em busca do sal mineral, haviam cinzeiros cheios,

latas de atum vazias, latas de coca-cola, mas sais minerais, não havia, « estás com azar », disse eu a Carla com um ar meio atrapalhado, « não faz mal », respondeu. A casa estava imunda – típica de homens estudantes – não era o sitio mais acolhedor para levar uma miúda, havia mais lixo do que moveis, decoração, essa era umas fotografias de umas profissionais do sexo, tiradas em alguns jantares de gala que de vez em quando realizávamos por lá, que funcionavam quase como trofeus que orgulhosamente exibíamos aos amigos que nos visitavam. Depois havia a suite, a única divisão decente em toda a casa, com cama de casal, 2 pares de chinelos, 2 robes, havia também televisão, dvd, e acima de tudo, o quarto cheirava bem. Seria lá – no ninho do amor – que iria fazer o amor com Carla, estava muito em dívida com ela.


Ela tinha ido à casa de banho há cerca de 5 minutos e ainda não tinha voltado, chamei por ela – não respondeu – chego junto à porta da casa de banho, « está tudo bem Carla? », sem resposta dela, ouço um soluçar, um tossir – já sabia o que ali, tinha acontecido – entrei, estava Carla a vomitar « sai daqui » disse ela.


« então porquê? » interroguei


« não quero que me vejas assim »


« por amor de Deus, não sou sensível a estas coisas, vais ver que te vais sentir melhor » e como um verdadeiro cavalheiro segurei-lhe no cabelo enquanto Carla expulsava o que restava do seu jantar.


« desculpa... » diz Carla, já com lágrimas nos olhos


« não tens que pedir desculpa miúda, isso é normal acontecer »


« eu sei Bruno... mas logo hoje? Queria tanto estar contigo »


« e vais estar, alias, estás! E eu sei, estás mal disposta, podemos conversar, ou simplesmente dormir... »


« não íamos fazer amor? »


« fica para outro dia, sabes, consigo obter prazer numa conversa que não acaba em sexo »


« és um amor sabias? »


Carla estava demonstrar a sua faceta sensível, de arrependimento, neste caso de beber. O álcool tem destas coisas, dá-nos alegria, coragem, mas por vezes, tira-nos outras coisas, como um bom final de noite. Levei-a até ao lugar que ela merecia, a suite, sentei-a na cama, tirei-lhe as botas, a roupa, de forma tão inocente que mais parecia um pai a tratar da filha após a sua primeira bebedeira. Carla estava um peso morto, completamente dominada pela bebedeira, deitei-a e dei-lhe um beijo de boa noite, « não me acredito que me beijaste, não era preciso... », disse Carla, já de olhos fechados, « era preciso sim, já beijei coisas piores », Carla abriu os olhos, sorriu, « ai sim? Tal como? », e quase de imediato volta a fechar os seus olhos, « um dia eu conto-te, agora dorme »

Fui até outro quarto, o meu, liguei a minha aparelhagem, meti a rodar o álbum Still

de Nine Inch Nails, fazia parte do ritual, do a seguir ao amor, aquele que não houve hoje, na verdade, presumo que nunca houve. Acendi um cigarro e ouvi o álbum como deve ser, com o respeito que merece, do inicio ao fim. Fiquei ali sentado a fumar e a ouvir, pensei na Carla, em mim, na minha vida, no rumo que ela não estava a tomar, na viagem carnal pela recta do Botânico, nos seios dela, e senti um enorme vazio, uma tristeza, uma ausência de vontade, de me ir deitar ao lado de Carla.

O álbum estava a chegar ao fim, era a última faixa – Leaving Hope – ouvia aquele piano grave, triste, sentido, um coro que ia se perdendo, chegando ao final do túnel, ao final de uma coisa qualquer que não conseguia decifrar. Levanto-me, e melancolicamente caminho em direcção à suite, Carla dormia profundamente, como uma criança sem qualquer preocupação, deitei-me a seu lado, um pouco afastado e imaginei-a como queria que ela fosse, não tive tão pouco que contar carneiros, fechei os olhos e adormeci. (...)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Chapter 21






Carta nº1



Querida Selena,



Escrevo-te porque hoje a seguir ao jantar, ao fumar um daqueles cigarros pós-jantar, aqueles cigarros que mais nos dão prazer, pensei em ti. Ao abrir a janela do meu quarto constatei pela bela luz lunar – estava lua cheia. Aquela lua que me apresentaste, a tua. Aquela que via-mos através da clarabóia do teu quarto, lembro-me dos cigarros que fumávamos após outras refeições. E esta lua que me observa agora, é a mesma que nos observou através da clarabóia – a tua lua. A lua que nos assistiu no bom, no mau, nus e vestidos.

Lembro-me de tudo cara Selena, das nossas, tão nossas conversas sobre a lua,e todos os seus mistérios. Lembro-me dos teus enormes olhos azuis que reluziam no escuro na noite em que te conheci, do teu longo e liso cabelo escuro – da forma que ele se abanava enquanto dançavas. Lembro-me até da primeira vez que entrei no teu harém, do cheiro do incenso que queimavas que quase se confundia com o cheiro da tua pele, baunilha certo? Como vês Serena, um cigarro pode despertar este tipo de coisas, este tipo de recordações. Já não te vejo à cerca de um mês, e como o prometido é devido, não nos vamos ver mais. Assim, vais ficar eternizada em mim, a minha deusa da lua – aquela que vês agora.


Escrevo-te para te dizer que não te esqueço – nem o vou fazer. Calma! Não teassustes, não te vou esquecer porque não o quero. Vivo bem sem ti, assim como tu sem mim. Mas aquela semana que passamos sob o abrigo da tua clarabóia, em que literalmente nos conhecemos a nu, foi das melhores coisas que me aconteceu. E por isso te escrevo, porque acho que não podemos apodrecer o que de tão invulgar e belo aconteceu – daí seguirmos a nossa vida paralelamente. Esta carta via email, é o meu agradecimento por tudo. Agora vem a parte sincera: Sinto a tua falta! De te ver nua a enrolar cigarros enquanto eu comia cerelac às 5h da manhã. De irmos fumar à tua janela e vermos o Mondego a apanhar os primeiros raios de sol, e Coimbra inteira sorria para nós. Sei que prometemos a nós que aquela noite seria a ultima mas será que não haverá uma ultima noite? É que tenho umas dúvidas acerca da lua, não me acredito que ela realmente controla as marés, e se estou errado, vais ter que o provar. Pois tem que haver algo de errado, dei por mim dias atrás quando estava no Porto a olhar para uma lua exactamente como aquela que via da tua cama. Será que ela é assim tão grande? E que tal vermos a lua do meu quarto? Ah, está arrumado, desta vez iria ser simples chegar à varanda do meu quarto sem tropeçares em nada. Fica o desafio...



Aguardo resposta tua, ou três toques na minha campainha – juro que abro.


Beijo,

Bruno


PS: Gosto de ti.


Coimbra – 20 de Maio de 2006