quarta-feira, 11 de março de 2009

Chapter 14





Adrift and at peace



Gostava que fossem 22h.


Olho para a parede e vejo quatro raios de sol a baterem na parede do meu – ainda – quarto vazio, ouço pássaros, ouço os primeiros carros na rua e ouço música, a minha. Na verdade está muito longe de serem 22h, são 7h, o que, seria muito normal se estivesse a acordar agora, fosse tomar o pequeno almoço, sair de casa, dizer « bom dia » a alguém familiar, mas não, a verdade é que ainda estou acordado e tem sido este o meu adormecer, ao som de uma música qualquer, ao som destes pássaros estúpidos, e ao som dos primeiros carros e/ou autocarros desta minha cidade adoptada, onde as probabilidades de um dia fazer algo normal são remotas, faço o que tenho por obrigação de fazer, como trabalhar, mais do que trabalhar ir para casa, dizer meia dúzia de piadas e ir para a cama, deste meu asilo em tons de azul e branco, não faço.

A monotonia invade-me dia após dia, gostava na verdade que fossem 22h, que já o cansaço

em mim se tivesse apoderado e que pudesse – só hoje – ter uma noite normal, de sono profundo sem preocupações do que vou ter que fazer amanha, sem preocupações em simplesmente acordar, o tal acordar que temo, que odeio nas primeiras horas, que me sinto completamente perdido, à deriva, agarrado ao passado.

Percorro toda a avenida á tua procura, nas paragens dos autocarros, atrás das árvores, não te

encontro, dou por mim a flutuar e a entrar na entrada de um prédio velho, sujo, na esperança de te encontrar subo um, dois, três...oito andares, já no terraço olho à volto e nada mais vejo do que lixo e mais lixo espalhado por todo lado, dou uns passos em direcção à berma e vejo agora uma imensa multidão apressada em todas as direcções e por entre toda essa gente, vejo-te parada, olhando sorridente para cima, para mim, sem expressar uma única palavra, apenas sorrias. Eu, quase de imediato corro para a escadaria para rapidamente te alcançar, paro. Não haviam escadas...Apenas um buraco imenso sem qualquer luz no fundo, volto atrás, e vejo-te lentamente a ir embora, chamei, berrei pelo teu nome, mas nem tão pouco olhaste para trás, já em desespero atiro-me pelo buraco negro – tinha que ir ao teu encontro – durante a minha demorada queda, juro que te senti, ouvi-te, embora sem perceber o quê, sei que eras tu, andei metros e metros pelo buraco negro sem cair e tocar seja no que fosse, mas ai senti uma paz enorme, uma limpeza de espirito, um “está tudo bem”, até que subitamente, ouço três pancadas enormes e bem ao longe um « acorda...acorda », e acordei com a minha companheira de casa a bater na porta do meu quarto, eram já 15h, tinha que ir trabalhar.


« Foi só um sonho, a merda de um sonho » pensei.

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