quarta-feira, 15 de abril de 2009

chapter 22

Recta do Botânico

(rascunho)


(...) Carla não estava bem, estava completamente bêbada, submissa, ela faria o que eu quisesse, realizaria qualquer capricho meu. Eu, naquele momento, começava a não achar graça à situação – tudo bem que sejamos ousados, mas sem perder a classe – e Carla há muito que havia perdido. Seguimos, agarrados – como se de um casal de namorados se tratasse – pela recta do botânico, entre escorregadelas das mãos de Carla pelo meu corpo, beijos ardentes, eu pensava no quanto adorava aquela recta, o quanto romantizava a ideia de um dia passear por ali agarrado a alguém – assim como a Carla – mas que amasse verdadeiramente, que pudesse levar para minha casa e fazer dela a escrava do meu amor e não de outra coisa qualquer. Por momentos esqueci-me de Carla, ela era mais uma que estava ali, que por momentos iria me fazer esquecer que eu na verdade, não tinha ninguém, que após um ano de ter chegado a Coimbra estava na casa de partida deste monopólio em que eu desde do primeiro dia comecei a jogar e – se calhar – nunca me apliquei de verdade , andei algumas casas, houve alturas que estava a avançar, mas subitamente fui parar à prisão – estive lá uns dias – e voltei ao ground zero.

São as regras, e quem não cumpre sofre as consequências, no meu caso, eu queria cumprir – queria alguém – mas não conseguia.

Tudo estava a ir embora, o efeito do álcool, a vontade que eu tinha em estar com Carla, mas essa, tinha toda a vontade. Ao chegar-mos à entrada do prédio onde vivia, Carla, por baixo das varandas, encosta-me à parede, beija-me, lambe-me os lábios e diz, « ai de ti que me tentes parar agora », abaixa-se entre os carros que estavam estacionados e vai directa à questão, às minhas calças, neste caso o fecho – que ainda estava aberto – e começa a morder-me muito suavemente por cima dos meus boxers, eu, estava imóvel, excitado e todo aquele momento deprimente havia desaparecido, são as tais maravilhas que o sexo faz, embora que por momentos. Carla era boa no que fazia, no factor surpresa, ela já segurava o meu pénis como se este lhe pertencesse, e já o beijava como se o amasse, e momentos depois já o lambia como se um gelado fosse, e fazia questão em me dizer o quanto lhe sabia bem, « tens um pau delicioso, sabias? », dizia Carla enquanto executava na perfeição aquele maravilho fellátio. Era uma cena que mais parecia tirada de um filme pornográfico, eu encostado à parece, a fumar um cigarro e Carla abaixada entre carros, não dava outra sensação que não a que na verdade se estava a passar. Estávamos ali há 5 minutos e além de fumar, gemia. Não conseguia dizer seja o que fosse, não ia conseguir – naquele momento – ser tão expressivo quanto Carla era nas suas palavras, era deliciosa a boca dela, estava insaciável, ora devagar, ora rápido, ela chupava-me com vontade enquanto fixava os seus olhos para cima, em direcção aos meus. Por instantes pára e diz-me com um ar preocupado, « quando te estiveres a vir avisa-me lindo », eu sorri e respondi, « não te preocupes linda », odeio o termo lindo, é tão “tem que ser” , tão vulgar, tão... Estúpido.

Carla fazia o seu melhor mas não valia a pena, eu não me vinha – não por falta de empenho dela – não conseguia, tinha bebido muito, e quando o faço acontece-me sempre isto, o que não é mau. Segurei-lhe na cabeça, puxei-a para cima, beijei-a e disse, « vamos para cima, aqui já deu para aquecer », Carla sorriu, e perguntou-me se eu tinha gostado, « óbvio », respondi eu. Entramos no elevador, houve uma troca de olhares tímidos, como duas crianças que tinham acabado de dar o seu primeiro beijo, « sabes Carla, não me lembro de demorar tanto tempo a chegar a casa como hoje », ela sorriu, « é verdade, parámos em todas as estações. Tens sais minerais? Estou meia mal disposta », era normal, para o que ela tinha bebido, estar só mal disposta era uma graça de Deus.

Entramos, ela sentou-se e eu fui em busca do sal mineral, haviam cinzeiros cheios,

latas de atum vazias, latas de coca-cola, mas sais minerais, não havia, « estás com azar », disse eu a Carla com um ar meio atrapalhado, « não faz mal », respondeu. A casa estava imunda – típica de homens estudantes – não era o sitio mais acolhedor para levar uma miúda, havia mais lixo do que moveis, decoração, essa era umas fotografias de umas profissionais do sexo, tiradas em alguns jantares de gala que de vez em quando realizávamos por lá, que funcionavam quase como trofeus que orgulhosamente exibíamos aos amigos que nos visitavam. Depois havia a suite, a única divisão decente em toda a casa, com cama de casal, 2 pares de chinelos, 2 robes, havia também televisão, dvd, e acima de tudo, o quarto cheirava bem. Seria lá – no ninho do amor – que iria fazer o amor com Carla, estava muito em dívida com ela.


Ela tinha ido à casa de banho há cerca de 5 minutos e ainda não tinha voltado, chamei por ela – não respondeu – chego junto à porta da casa de banho, « está tudo bem Carla? », sem resposta dela, ouço um soluçar, um tossir – já sabia o que ali, tinha acontecido – entrei, estava Carla a vomitar « sai daqui » disse ela.


« então porquê? » interroguei


« não quero que me vejas assim »


« por amor de Deus, não sou sensível a estas coisas, vais ver que te vais sentir melhor » e como um verdadeiro cavalheiro segurei-lhe no cabelo enquanto Carla expulsava o que restava do seu jantar.


« desculpa... » diz Carla, já com lágrimas nos olhos


« não tens que pedir desculpa miúda, isso é normal acontecer »


« eu sei Bruno... mas logo hoje? Queria tanto estar contigo »


« e vais estar, alias, estás! E eu sei, estás mal disposta, podemos conversar, ou simplesmente dormir... »


« não íamos fazer amor? »


« fica para outro dia, sabes, consigo obter prazer numa conversa que não acaba em sexo »


« és um amor sabias? »


Carla estava demonstrar a sua faceta sensível, de arrependimento, neste caso de beber. O álcool tem destas coisas, dá-nos alegria, coragem, mas por vezes, tira-nos outras coisas, como um bom final de noite. Levei-a até ao lugar que ela merecia, a suite, sentei-a na cama, tirei-lhe as botas, a roupa, de forma tão inocente que mais parecia um pai a tratar da filha após a sua primeira bebedeira. Carla estava um peso morto, completamente dominada pela bebedeira, deitei-a e dei-lhe um beijo de boa noite, « não me acredito que me beijaste, não era preciso... », disse Carla, já de olhos fechados, « era preciso sim, já beijei coisas piores », Carla abriu os olhos, sorriu, « ai sim? Tal como? », e quase de imediato volta a fechar os seus olhos, « um dia eu conto-te, agora dorme »

Fui até outro quarto, o meu, liguei a minha aparelhagem, meti a rodar o álbum Still

de Nine Inch Nails, fazia parte do ritual, do a seguir ao amor, aquele que não houve hoje, na verdade, presumo que nunca houve. Acendi um cigarro e ouvi o álbum como deve ser, com o respeito que merece, do inicio ao fim. Fiquei ali sentado a fumar e a ouvir, pensei na Carla, em mim, na minha vida, no rumo que ela não estava a tomar, na viagem carnal pela recta do Botânico, nos seios dela, e senti um enorme vazio, uma tristeza, uma ausência de vontade, de me ir deitar ao lado de Carla.

O álbum estava a chegar ao fim, era a última faixa – Leaving Hope – ouvia aquele piano grave, triste, sentido, um coro que ia se perdendo, chegando ao final do túnel, ao final de uma coisa qualquer que não conseguia decifrar. Levanto-me, e melancolicamente caminho em direcção à suite, Carla dormia profundamente, como uma criança sem qualquer preocupação, deitei-me a seu lado, um pouco afastado e imaginei-a como queria que ela fosse, não tive tão pouco que contar carneiros, fechei os olhos e adormeci. (...)

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